Amados amores,
Venho de uma semana punk no trabalho, e na minha peculiar montanha-russa emocional, passei fortemente pelo down. Essa insatisfação e angústia que sinto me acompanha desde sempre, desde onde minha memória alcança, tem muito a ver com uma questão bem delicada que é a de não saber exatamente do que eu gosto, o que eu realmente quero pra mim. E tá bom, eu sei que não estou sozinha nesse conflito - muito pelo contrário. Cada vez mais gente se lança nessa aventura de buscar seu próprio caminho, ou de jogar luz no caminho que já existe, que está lá, mas que a gente não vê. É uma tendência, talvez, algo possivelmente relacionado com transformações energéticas que estão rolando no planeta. (A dinda véia é mística também, não é novidade).
A minha dificuldade é grande e é particularmente maior no que se refere à identificação de quem eu sou, do que me realiza, me faz feliz. Já corri atrás do próprio rabo até cansar procurando essa grande sacada, em especial no quesito profissional, mas de uns tempos pra cá dei uma boa relaxada e entendi que o "profissional" é só uma parte, uma pequena parte, do que nós somos. Já praticamente aceitei - embora ainda tenha recaídas - que talvez eu nem vá chegar a essa conclusão nessa vida, mas e daí? Existem outras coisas. O que acontece é que esse sistemão opressor em que a gente vive nos faz acreditar que a questão do trabalho é a mais importante do mundo. Mas não é, gente. Ou melhor, não é pra todos.
Eu acredito plenamente que há gente que "nasceu pra isso", ou "nasceu pra aquilo". E o "isso" e o "aquilo", neste caso, referem-se a um talento que se concretiza no âmbito profissional. E que bom, que ótimo, porque graças a isso tem gente muito boa no que faz, e tem gente realizada. Mas nós somos pessoas, não robôs, não funcionamos igualzinho uns aos outros. E é isso que eu quero dizer pros meus pequenos, desde já. O Gui e a Isadora já têm idade pra entender o recado, acho que a Sossô também. A gente não precisa, necessariamente, saber no que quer trabalhar. Se soubermos, ótimo, let's go for it, mas somos muito mais do que possíveis profissionais, do que pessoas executando funções x ou y. Somos seres altamente complexos e com infinitas possibilidades. E o tempo é extremamente relativo.
Bem no meio da minha crise vi o post abaixo em uma página da Ayurveda e caiu como uma luva. É importante a gente entender que cada um tem o seu tempo, que fazer comparações com os outros é a chave para a frustração e uma perda de energia imensa, que estamos todos caminhando, que está tudo bem. Eu não vou desistir de encontrar essas respostas, não vou deixar de buscar um sentido maior pra minha vida, algo que me realize, posso fazer isso até meu último dia aqui na Terra, e isso não será um problema. Problema é a gente se cobrar demais, sofrer demais, pirar demais. Eu sou mestre nisso. Muita gente é.
Mas no fim foi muito legal passar por esse momento de copo transbordando, porque dividir também alivia o peso, muda a perspectiva. No dia seguinte ao meu desabafo (me refiro ao meu post do facebook onde eu confesso que estou num estado de esgotamento total com a rotina massacrante de trabalho + sensação de não estar fazendo nada que eu goste + culpa pela escassez de tempo para a filha, etc), além dos vários comentários de apoio, de força, de identificação, cheguei pra trabalhar e olhei cada um dos meus colegas, cada um deles, com uma ternura tão grande, um sentimento de pertencimento tão bonito... Não é que devemos nos conformar (pelo contrário, já falarei disso num outro dia), mas ver que, no fundo, estamos todos neste mesmo grande barco, navegando entre tormentas e bonanças, procurando por sentido, por nós mesmos, por respostas. Não há um de nós que não esteja se equilibrando, ou tentando se equilibrar, nessa corda bamba que balança sobre o sistema no qual estamos mergulhados desde (quase) sempre e nossas peculiares inquietações de seres complexos que somos.
Hoje só quero dizer que estamos juntos, que não estamos sós. Que não precisamos saber exatamente o que estamos fazendo aqui. Que sim, somos muito bons em muitas coisas, e isso não necessariamente tem a ver com trabalho. Na maioria das vezes, penso, simplesmente não tem nada a ver. Eu só quero que vocês não deixem de buscar. De olhar pra dentro, de mergulhar lá dentro. E de olhar pra fora também, mas só se for pra ver o outro como um irmão, alguém que também está encarando suas próprias dores e delícias do viver. E que o tempo é diferente pra cada um. Não tem problema passar a vida nessa busca. Eu sei que às vezes eu esqueço disso, mas eu juro: o importante é o caminho.
Avante, avante, amorinh@s.